terça-feira, 23 de dezembro de 2008

''Com o coração explodindo em flores ganhei a rua. Eu dançava em um ritmo de primavera e via as cores do sol abrindo as janelas, as portas e as grades de aços. Esses braços de luz abraçavam as pessoas e então viam-se armas e mentiras abandonadas nas lixeiras. Um novo exército com voz doce de nova melodia marchava com força que desprende cadeias e com olhos que desmachavam egoísmo, inveja e orgulho-cego. E os passos daqueles, faziam rosas, margaridas, tulipas e flores-do-campo nasceram do asfalto quente. Não tinha quem se segurasse, inimigos se abraçavam, famílias riam altos e esqueciam diferenças, casais dançavam e alegria era uma música nos lábios dos jovens, velhos e crianças. O amor pulsava nas veias e nos olhares transparentes. A paz corria pelas casas e fazia a vida ser incrivelmente elevada e irrisistivelmente fascinante. Se existia a fome, era por justiça, e se existia sede, era pela verdade. Uma chuva com gosto de juventude molhava os rostos dos justos e injustos, e finalmente todos eram iguais. O medo se encontrava ausente. E como em um coro que progressivamente crescia derrubando paredes frias de preconceitos nos corações sussurravam atos de bondade que coloriam as ruas...''

domingo, 21 de dezembro de 2008

Sobre o amor

Cada vez mais eu tenho certeza de que não sei o que é o amor. O amor é vasto e complexo demais para que alguém possa afirmar que o compreende na sua totalidade. O amor é tão incompreensível quanto uma equação logarítmica. É mais fácil decorar todas as declinações do latim. Mais fácil aprender "japonês em braile". Porque entender o amor é entender o ser humano. E, na boa, isso nem Freud explica. Somos complicados, inconstantes, egoístas. Mas também somos frágeis, inseguros, inexperientes. Queremos só hoje. Queremos nos entregar. Queremos possuir. Queremos à nossa maneira. Queremos o que não temos. Queremos quem está ao nosso lado. Queremos quem está em outro continente. Queremos o óbvio. Queremos o impossível. E, muitas vezes, nem sabemos o que queremos. Porque amar não é saber, não é entender. O amor real é o sentimento mais imprevisível e imperfeito que existe. A maioria das pessoas não encontra seu par perfeito para ter uma vida conjugal linda e maravilhosa de comercial de margarina até completarem bodas de ouro. Sim, ele vai roncar. Sim, ela vai gastar muito. Sim, ele vai olhar pra outra. Sim, ela vai ter o dobro de celulite em dez anos e talvez não continue sendo tão maravilhooosa estéticamente. Sim, vocês vão brigar porque o carro apareceu arranhado. E vão ficar trocando acusações até descobrirem que o culpado foi o filho do vizinho de 5 anos com sua bicicleta. Mas a perfeição amor-alma-gêmea-príncipe-encantado-viveram-felizes-para-sempre é chata demais. Então, quem se importa? Alguém deixa de amar por isso? O amor também é perigoso. E adoramos correr esse risco. Como disse uma vez o Arnaldo Jabor, existe sexo seguro, mas não há camisinha para o amor. Não há como não arriscar. Não há como prever e planejar tudo. Não há como se proteger de algo desconhecido. Porque amar é ir ao cinema de mãos dadas. Mas também é achá-lo(a) lindo(a) acordando com a cara amassada e cheio(a) de remela. É gostar de estar junto só por estar junto: o amor não precisa de ações ou de palavras. Amar é correr na praia deserta em slow motion, em câmera lenta. Mas também é ter medo. É ter dúvidas. É tentar consertar as coisas. Mas também é fazer tudo errado. É chorar ouvindo música de dor de cotovelo. É romper barreiras. É achar que vai dar tudo errado. Mas também é quebrar a cara e continuar tentando. O amor não tem regra ou razão. Mesmo que dê tudo errado. Mesmo que dure pouco. Mesmo que nem comece ou que dure pra sempre. A única certeza é que, dentro de nós, temos todos os sonhos do mundo. Mesmo que eles não se realizem. Só esse desejo é suficiente. A graça está na viagem de ida, não só na chegada. Parece complexo, eu sei. Mas sua simplicidade está no sentir. Amar é amar e pronto. É assim, verbo intransitivo, e só.
''Com o tempo, eu percebi que não importa o que eu pense,
As coisas nunca vão ser do jeito que eu quero.
Aprendi que o mundo dá voltas
E que dando a cara à tapa, não se resolve nada.
Absolutamente nada.
Que com o tempo você entende o que são as coisas
E quem são as pessoas.
E que mágoas sempre vão ficar
E lágrimas sempre vão rolar rosto afora.
E que ninguém vai conseguir mudar isso.
Achei que tudo passaria rápido,
E que as pessoas mudariam.
Mas entendi que não é bem assim...
É, talvez eu até tenha, e não enxergue.
Meu coração está aos gritos,
Apertado no último buraco de um cinto de 30 furos.
Incrível, é que eu devo ter razão,
O ruim, é que é por bobagem.
Me desperdicei, desperdicei meu tempo.
Aquela sensação de quererem ser sempre que nem a gente,
Por mais que não seja verdade.
Amigos que sentem o maior amor e consideração? Ham?
E eu entendi, que amigos vêm e vão.
(E quem sabe, voltem um dia.).
Toca fundo, bate forte.
É, loucura instável.
Amargura, em sua quase total forma.
Será que não dá pra notar que eu estou desse jeito por causa disso e daquilo?
Um dia, as mascaras acabam caindo.
Ninguém vai ser que nem a gente.
Como é possível, em um ano, algumas pessoas mudarem tanto?
E o que vai me restar daqui de dentro? O resto.
Talvez a decepção e um pouco de surpresa.
Tanto faz, tanto faz... É pura insanidade.''